segunda-feira, 15 de abril de 2013

O preocupante consumo de agrotóxicos no Oeste do Paraná



Este pequeno texto do Mestre Fernando Mendonça Heck, ilustra muito bem a magnitude dos problemas causados pelo uso abusivo e indiscriminado de venenos agrícolas.

As apostas da agricultura de mercado territorializada na região, ocupando 80% das propriedades com grãos não deve ser vista numa dimensão unívoca e economicista que afirma trazer essa o desenvolvimento regional.
Muito se fala em produção de alimentos. Mas, a realidade não é bem essa. O Oeste do Paraná produz sim soja e milho como base da produção de ração para animais e exportação. E, além disso produz o que? Isso é garantir alimento? As pessoas comem somente produtos de origem animal?
Seja como for há um problema muito importante a ser mencionado. Milho, soja e cana que dominam grande parte das terras agricultáveis do território nacional, são também responsáveis por 70% do consumo de agrotóxicos do país (ROSA, PESSOA E RIGOTTO, 2011).
Essa utilização desenfreada de agrotóxicos se reflete em dados como os divulgados pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), que apontam a região de Cascavel como campeã no consumo de venenos com 23Kg/Ha/ano (IPARDES, 2010). Isso equivale a 5 vezes mais que a média nacional de consumo de agrotóxicos (4 Kg/Ha/ano) e duas vezes mais a média do estado que é de 12 kg/Ha/ano.
Isso significa que estamos em meio a índices muito altos de utilização de venenos.
Por isso, é importante perguntar: é essa agricultura que queremos? É esse modelo de produção de commodities que devemos defender? Penso que não.
O argumento dos ruralistas geralmente se baseia em números do Produto Interno Bruto e da positividade da balança comercial. E mesmo os governos tidos por alguns como “progressistas” continuam a apostar nesse reducionismo economicista da produtividade para justificar a utilização de agrotóxicos. Mas, podemos afirmar na perspectiva de Eduardo Galeano (apresentada no documentário O Veneno está na Mesa de Silvio Tendler), que a terra e as pessoas são muito mais importantes do que os “numerinhos” da produtividade.
São tão mais importantes que é preciso debater os efeitos dos agrotóxicos no ambiente. Este que inclui os seres humanos, os animais, as águas, etc.
Entre 2007-2011 o glifosato foi o agrotóxico que mais causou intoxicações relacionadas ao trabalho no Paraná. Os princípios ativos de organofosforados resultou em 155 notificações por intoxicação e dentre essas 85 estavam relacionadas aos metamidofós já proibidos (PAZ, 2012).
Alimentos como o abacaxi, alface, arroz, beterraba, cebola, cenoura, couve, laranja, morango, pepino, pimentão, tomate e repolho apresentam resíduos de agrotóxicos. Segundo o Relatório do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos no Estado do Paraná (PARA), o pimentão teve 100% das amostras consideradas insatisfatórias, seguido do pepino com 75%, abacaxi, alface e morango com 50% e beterraba com 40%.
Nessa pesquisa, além de o pimentão ter a presença de 20 ingredientes ativos não autorizados para esse cultivo em duas amostras encontrou-se o endosulfan. Esse produto é proibido em 62 países no mundo. Em 2010 nos Estados Unidos ele foi banido por trazer risco inaceitável para trabalhadores, vida aquática e terrestre, pássaros e mamíferos que consomem organismos aquáticos onde o endosulfan pode ter sido acumulado (MOREIRAet al., 2012). Também, os mesmos autores advertem que diversos problemas de saúde como distúrbios do sistema nervoso central, doenças hepáticas, renais e cardiorrespiratórias estão relacionadas à exposição crônica ao endosulfan.
Focamos agora no monocultivo da soja no Paraná. O glifosato principal causador de intoxicações em trabalhadores no estado e utilizado principalmente nas culturas de soja é considerado pouco tóxico. Mas, há estudos que têm demonstrado efeitos negativos do glifosato sobre a morfologia normal e a reprodução de minhocas expostas a esse agrotóxico. Outros problemas de saúde relacionados são rinite, alterações do DNA/mutagêneses e dermatites (PIGNATI et al. 2012). Isso que estamos falando de um agrotóxico considerado pouco tóxico...
Assim, é preciso problematizar o modelo de agricultura de mercado no Oeste do Paraná e no Brasil. Uma agricultura que se assenta na produtividade, mas que traz tantos malefícios para o ambiente não deve ser encarada como importante para a humanidade. Por isso é preciso saber que quando se fala de agrotóxicos, estamos falando de agronegócio, de monocultivo. Um modelo de agricultura que se ampara numa “revolução” (Revolução Verde) que não conseguiu cumprir seu objetivo (se é que isso não foi apenas um lobby para convencer a sociedade), de erradicar a fome no mundo.
Aliás, não consegue cumprir isso porque não é interesse do agronegócio alimentar as pessoas. Seu objetivo é produzir para auferir lucro e não produzir para alimentar a humanidade, já que segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) no mundo há aproximadamente 870 milhões de pessoas que sofrem de subnutrição (AGÊNCIA BRASIL, 2012).
Por isso, é preciso que saibamos ter inteligência crítica para entender os agrotóxicos e sua relação com o capitalismo. É esse modo de produção que vivemos que produz uma agricultura de mercado que não tem o objetivo de produzir alimentos para os seres humanos, mas sim produzir para lucrar. Realidade esta que está aqui no Oeste do Paraná.
Devemos defender essa agricultura de mercado? Ela é importante para o conjunto da sociedade? Ou ela é importante para apenas alguns que ganham muito com isso? Essas são perguntas urgentes que tem de povoar nossas cabeças para que possamos construir alternativas!

Referências
INSTITUTO PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL. Indicadores de sustentabilidade ambiental por bacias hidrográficas do estado do Paraná. Curitiba: IPARDES, 2010.
MOREIRA, Josino Costa et al. Contaminação de águas superficiais e de chuva por agrotóxicos em uma região do estado do Mato Grosso. Ciência & Saúde Coletiva, v.17, n.6, p.1557-1568, jun.2012.
ONU: quase 870 milhões de pessoas passam fome no mundo. Agência Brasil. 09 out. 2012. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-10-09/onu-quase-870-milhoes-de-pessoas-passam-fome-no-mundo>. Acesso em: 12 abr. 2013.
O VENENO ESTÁ NA MESA. Produção de Silvio Tendler. (49 minutos e 23s.). Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg>. Acesso em: 12 abr. 2013.
PAZ, Sezifredo Paulo Alves. Impactos dos Agrotóxicos no Paraná e as ações da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Apresentação Seminário Internacional Contra os Agrotóxicos Pela Vida. Curitiba, 06 dez. 2012.
ROSA, Islene Ferreira; PESSOA, Vanira Matos; RIGOTTO, Raquel Maria. Introdução: Agrotóxicos, saúde humana e os caminhos do estudo epidemiológico. In: RIGOTTO, Raquel (org.) Agrotóxicos, trabalho e saúde: vulnerabilidade e resistência no contexto da modernização agrícola no Baixo Jaguaribe/CE, Expressão Popular: 2011.
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ. Relatório do programa de análise de resíduos de agrotóxicos em alimentos no estado do Paraná (9º ano). Curitiba: SESP, 2011.

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